sábado, 12 de março de 2011

3 Discos de Fleetwood Mac




FLEETWOOD MAC - 1975

Quase dez anos de banda e musicalmente, dez anos a frente. É o primeiro com Stevie Nicks no vocal e Lindsey Buckingham na guitarra. Neste disco, a banda prepara o terreno para a dominação mundial. Abre com "Monday Morning", depois "Warm Ways", "Blue Letter" - tudo o que se pensou em pop-rock anos 80 - e "Rihannon" - o refrão "will you ever win?" fica na cabeça por alguns dias, podes crer - vem seguida de "Over My Head" - puro pop de rádio FM bem feito, daquelas que salvam o dia. Estas são apenas as seis primeiras músicas do disco. E quando parecia difícil pensar em algum trabalho da mesma banda com tantos hits na sequência, os caras lançam outra obra-prima: Rumours.



RUMOURS (1977)

Tudo aquilo que se ouviu no disco anterior, aqui é levado às últimas consequências. Fora os problemas internos (brigas, overdose, separações, etc.) e a demora nas gravações, quando se ouve esse disco, parece que escrever belas canções era o que unia aquelas pessoas. É o disco de "Dreams", "Go Your Own Way" (fica a dica de um mash-up com "Si Manda" do Jorge Ben), "You Make Loving Fun", "The Chain". A impressão é que a direção da banda ficou nas mãos das mulheres. Stevie Nicks e Chris McVie gradualmente domaram a tormenta e criaram um lugar no mundo, como todo bom artista de rock, onde é possível que outras pessoas também façam parte e fiquem à vontade. Rumours é um disco ao mesmo tempo doce e superficial, mas com um aperto no coração. E quando todos os sinais indicavam que o mundo ia acabar, vem o Tusk.


TUSK (1979)

Quase um "exemplo de superação" da banda entre tantos altos e baixos, construção e reconstrução, abre com uma linda balada: "Over & Over". Considerado o disco mais caro da indústria na época, Tusk parece uma elegia aos velhos tempos. Com o punk rock devastando a cena, ainda era possível fazer canções de amor naquele formato? As duas coisas sempre conviveram juntas, pelo menos é assim que vejo. Vamos aos hits: "Sara", "Think About Me", "Storms" e o que parecia piada interna depois de tantas brigas: "I Know I'm Not Wrong", "What Makes You Think You're The One?", "That's Enough For Me", "Thats All For Everyone". Discaço.


Fleetwood Mac é uma banda de fôlego impressionante, olhando pro que veio antes desses três discos, principalmente o "Mr. Wonderful" (1968) e o "Then Play On" (1969) e o que veio depois, um único hit: "Gipsy", é só música boa. E o que é melhor, tudo cabe num Ipod.


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Núcleo Base


Escrever sobre música é lembrar de conversas com amigos. Quando discorríamos sobre:

- Pela volta do uso do sampler no rap - as bases andam muito fraquinhas. Na real, parece que os rappers não tem mais o que dizer a não ser falar de dinheiro e tirar férias com os parceiros.

- "King of the Limbs", o novo do Radiohead - que mais parece um disco de passagem da banda. Aqui, ao contrário dos rappers atuais, as bases são potentes, próximas do Dubstep (Burial, Skream, Benga, Kode 9, etc.) e Jungle (alguém lembra? Era alguma coisa antes de virar Drum and Bass). Taí uma banda corajosa. Que outra "banda de arena" pretende se aventurar no estúdio para experimentar novos climas, ambiências sem produzir um hit pra todo mundo cantar junto? U2? Coldplay? Ah, vá...Já li por aí que "desse jeito a banda confunde os fãs e a imprensa". É isso aí. Fãs e imprensa tem mais é que se confundir mesmo.

- "Feito para Acabar", de Marcelo Jeneci - Muito bacana o disco. Algumas gosto mais e outras sei que vou parar de ouvir para sempre. Gosto muito daquela em que ele parece falar de qualquer geração (Por Que Nós -"Éramos célebres, líricos, éramos sãos..."). Me lembrou "Construção" de Chico Buarque no uso dos proparoxítonos e alguma coisa do Clube da Esquina. Coisa linda são os arranjos de cordas. Ficaria feliz se lançassem uma versão sem os vocais. Lembro de um disco do "Dr. Octagon", que foi lançado em duas versões. a primeira com vocal era inaudível, a segunda, sem vocais, só com as bases (as bases, novamente as bases), era um outro disco, muito mas muito melhor.

- O primeiro show do Cidadão Instigado que eu vi no Sergio Porto e que nunca mais esqueci. Depois vi mais um no Circo e as maravilhas que Fernando Catatau promove na guitarra. Perdi esse último no Rival. Estava sem paciência pra por o pé na rua aliado a muito trabalho por fazer. Fiquei sabendo que teve participação de Dado Vila-Lobos e que tocaram Legião. Que posso dizer? Até a próxima.

- Ainda nesse verão de 2011, lembrei do animado, porém curto show do Fino Coletivo no Arpoador e o quanto o som deles, de alguma forma, parecia Lucas Santanna. Até que os caras emendaram uma versão de "Lycra-Limão" do Lucas e as minhas sinapses ficaram em festa. Pensei em traçar uma linha: Fino Coletivo - Lucas Santanna - Rubinho Jacobina - Domenico+2...até revisitar o passado com Stereo Maracanã - Boato - Acorda Bamba.
Mas, não sei se tudo isso cabe num post.

- O que mais ouço, leio e comento entre amigos: Patti Smith, Slits, Siouxsie, Talking Heads, Arcade Fire, Tim Maia, Cure, Bob Dylan e tudo de Robert Wyatt.

- E que mais tarde tem show com Anthony B. e Bushman - Bases - Fundamentos - Tudo é Estrutura - Mo fya!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Arcade Fire - O fogo ingênuo da paixão


Arcade Fire é uma daquelas bandas cujo objetivo principal é fazer chorar, rir, emocionar de verdade. Lembra os melhores momentos de Belle and Sebastian, The Cure, U2, The Cars, Blondie e Wire via produção e melancolia.


O Arcade Fire pede urgência em tudo. Nas vozes, nos intrumentos, nas músicas que parecem hinos, verdadeiras marchas entoadas em uníssono pela multidão em qualquer rua de qualquer cidade, em qualquer praça de qualquer país.


"Disseste que se tua voz / tivesse força igual a imensa dor que sentes / teu grito acordaria não só a tua casa / mas a vizinhança inteira" - Urbana Legio Omnia Vincit.


Temas: O primeiro disco foi a Morte (Funeral) o segundo, a religião (Neon Bible) e este terceiro, a vida na periferia (The Suburbs).


Um disco a partir de um tema. Músicas tornam-se uma única música (as melhores são boas mesmo se ouvidas isoladas ) Mas o barato, a essência está na audição de todo o disco. Como se fazia naquele tempo em que ainda era possível parar e ouvir um disco do início ao fim.


A capa prende o olhar, letra e música operam milagres enquanto a vida segue fora do quarto.


"We rode our bikes to the nearest park
Sat under the swings and kissed in the dark
We shield our eyes from the police lights
We run away, but we don't know why"



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vida

I


Ontem passei por essa mesma rua e anteontem e antes de antes de anteontem também.

Ouço de longe o barulho de sirenes de polícia, ou de bombeiros, ou ambulância, não sei a diferença. Carros passam apressados e buzinam para que outros carros saiam da frente. Eram motociclistas abrindo passagem para um carro oficial do governo.

Perto da banca de jornais um homem discute com um policial. Não consigo entender o que eles falam. Logo, uma aglomeração impede que eu veja os dois. Vejo apenas braços gesticulando.

Muito barulho por aqui. Carros buzinam perto da minha casa. Formam-se engarrafamentos a toda hora. Um amigo reclama de não conseguir dormir direito há três dias.

As pessoas falam alto em bares e restaurantes. Além do barulho da rua, existem TVs por toda parte que mesmo com o som desligado, parecem falar mais alto que todos.

Estamos construindo ou destruindo cidades?

Paro um segundo, acendo um cigarro no isqueiro pendurado na banca de revistas e leio as manchetes.

"Perseguição e morte no centro da cidade."

II

Agora estou na livraria do shopping. Ando entre as estantes e vejo um menino rindo com um livro nas mãos. Espero ele deixar o livro em algum lugar e depois que se afaste. Eu me aproximo e tento descobrir qual é a graça.

Era um livro sobre monstros e conforme o ângulo que olhamos a capa, aparecia um lobisomem, um zumbi e um vampiro, acho. Dava um efeito engraçado mesmo.

Lembrei de uma frase de Orhan Pamuk: "O encanto de uma livraria não está nos livros, mas na variedade de suas capas."

Encontro um lugar na cafeteria e faço anotações com a caneta emprestada da garçonete. Protejo o papel, como se fosse do interesse de alguém.

Peço um café e uma água com gás.

A trilha sonora desse lugar é horrível.

Escrevo tudo isso muito rápido, termino a água, o café e saio com os dedos sujos de tinta de caneta.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Discoteca Básica ou a lenda do Capitão Coração de Bife



A revista Bizz, junto com a SomTrês e a Roll formavam a tríade das publicações que marcaram os anos 80 e me faziam juntar uma grana todo mês para comprar e ler sobre música e cultura pop.

"Discoteca Básica" era uma das seções da Bizz onde muita gente boa como José Emilio Rondeau, Bia Abramo, Thomas Pappon, Alex Antunes e Hermano Vianna escreviam sobre álbuns que ampliaram o repertório geral. Geralmente, a "Discoteca Básica" vinha na última página e era por onde eu começava a ler a revista. Conheci muita coisa por ali, como o Berlin do Lou Reed, o Astral Weeks do Van Morrison, o Low do David Bowie, o Transa do Caetano, o Revolver do Walter Franco, o Dirty Mind do Prince e o Trout Mask Replica do Captain Beefheart.

Todos os discos supracitados me (ins)piram até hoje. Um deles especialmente. A resenha do Captain Beefheart (número 32 - Edição de Março de 1988 - Escrita por Peter Price) só me fazia pensar, por força de tanta estranheza e informação nova, onde e com quem eu poderia arrumar uma cópia de um disco assim: Em 1969, auge do psicodelismo hippie, Don Van Vliet (aka Captain Beefheart) compôs as 28 faixas do "Trout Mask Replica" em oito horas com apenas um piano e um gravador, os músicos da "Magic Band" tinham nomes como "Drumbo", "Zoot Horn Rollo", "Rockette Morton" e "The Mascara Snake", despejavam dissonâncias, improvisações, slide guitar, assobios, vinhetas e uma capa de foder.

Precursor do Punk/New Wave, parecia uma coisa radical destinada somente a uma faixa altamente especializada de consumidores. Músicos, por exemplo. Na época eu pensava assim, hoje acho que é música para quem gosta de música.



A primeira vez que ouvi a voz do Captain Beefheart foi na faixa "Willie the Pimp" no disco Hot Rats do Frank Zappa (os dois eram amigos desde a adolescência) e virei fã na hora. Ouvia a música tantas e tantas vezes e não enjoava.



Era um riff de guitarra nos moldes clássicos de "Smoke on the Water", "Satisfaction", "Kool Thing" ou "Paranoid"...e a voz rouca de Beefheart encarnando um cafetão de cabelo penteado para trás, calça cáqui e sapatos pretos brilhantes vendendo HOT MEAT, HOT RATS, HOT ZITS, HOT ROOTS, HOT SOOTS, HOT CHEST. Aliás, o disco inteiro "Hot Rats" é um capítulo a parte e pretendo falar disso um dia. Por hora, voltemos ao Captain, my Captain...


Eu ouvia também muito Tom Waits. Adorava todas as músicas e aquela voz de blueseiro velho à sombra do apocalipse. Quando comecei a ouvir as músicas de Beefheart eu lembrava muito de Tom Waits e mais Howlin' Wolf on acid. Depois li em algum lugar que o disco "Swordfishtrombones" de 1983 de Tom Waits foi concebido após várias imersões na música de Van Vliet. Mas não foi só apenas isso...


O pessoal do Sonic Youth fez um cover de "Electricity" (música do primeiro disco de Beefheart) e incluiu como faixa extra na versão de-luxe do álbum "Daydream Nation". E caras como Matt Groening, Kurt Cobain, Black Francis e John Frusciante também incluem Captain Beefheart como uma influência primordial.


O disco "Lick My Decalls Off" (1970) abre com o singelo poema:


"Rather than I wanna hold your hand/

I wanna swallow you whole/

and I wanna lick everywhere it's pink/

and everywhere you think"


Desde que ouvi isso, pirei e corri atrás do que pintasse com o nome Beefheart na capa. Encontrei o primeirão "Safe as Milk" (1967) e o tão falado "Trout Mask Replica" (1969) em alguma loja que já não deve mais existir.


Entrar em contato com essas obras de invenção pura, com jeito de oráculo, onde o sentido vai se dando, para usar uma expressão do poeta Régis Bonvicino, pelo "encantamento sincopado dos sons" me faz pensar que a lenda do Capitão Coração de Bife vai permanecer viva em qualquer discoteca básica. Bom, pelo menos na minha vai.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Com quantos Bootlegs se faz uma discografia?


"Ain’t it hard to stumble
And land in some funny lagoon?"

Bob Dylan - Outlaw Blues


A impressão que se tem sobre a trajetória de Bob Dylan é a de que desde o primeiro disco em 1962, ele plantou raízes tão profundas que pra se desenterrar seria preciso cavar até o outro lado do mundo.


Falo do número 8 (!) da série de bootlegs (sobras de estúdio, versões alternativas, faixas ao vivo nunca lançadas) de Bob Dylan. Pra muita gente boa que faz música, oito discos é uma longa carreira.


"Tell Tale Sings" corresponde a fase que vai de 1989 a 2006. Época em que Dylan foi moldando o visu "Vicent Price" e gravando discos como "Oh Mercy"; "World Gone Wrong"; "Time Out of Mind" e "Modern Times" de canções tão elegantes, belas e difíceis de imaginar como seriam tocadas de outra maneira.


Voltando um pouquinho, mais precisamente em Março de 1965 até Maio de 1966, Dylan lançou três clássicos do rock de todos os tempos: "Bringing All Back Home"; "Highway 61 Revisited" e "Blonde on Blonde". Até que um acidente de moto o retirou de cena. Alguns anos depois ele reaparece com "John Wesley Harding" (1967) e "Nashville Skyline" (1969). Dylan literalmente pisa no freio e muda o clima das canções revisitando folk e blues.


Vinte anos depois, em "Oh Mercy" (1989) até "Modern Times" (2006) Dylan fez álbuns que, como um novo tipo de encantamento, trazem o reencontro com as primeiras influências: Hank Williams, Lonnie Johnson, Charley Patton, Leadbelly, Johnny Cash... É possível sentir na música de Dylan, a presença de todos esses artistas feito nomes que surgem em uma conversa e se vão.


"Para os Beatniks, o mal era o convencionalismo burguês, a artificialidade social e o homem de terno. As canções folk automaticamente levantam-se contra o cerne de todas essas coisas. As músicas de folk e blues já haviam dado meu conceito pessoal de cultura. Todas as outras culturas do mundo eram ótimas, mas quanto a mim, a minha cultura, aquela em que eu havia nascido, cumpria o papel de todas elas." Bob Dylan em "Crônicas".


E no incessante Baú do Bob vem aí "The Bootleg Series Vol. 9". Para um artista que rotineiramente reescreve a própria obra, parece que a coisa está longe de acabar. Tomara.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma tarde na Modern Sound



Calçadão de Copacabana. Era um dia quente. Eu fumava um cigarro e meu amigo também. Andamos até a loja de suco para fazer um lanche. Começamos a conversar sobre um filme recente que lembrava um filme dos anos 80.

"Rocco!" Gritou um italiano do outro lado da rua, acenando para um amigo. Como eu sabia que era um italiano? A cidade está cheia deles. A cidade está cheia de estrangeiros. Grupos de todos os tipos. Italianos, chineses, turcos, indianos, russos. Copacabana está sempre cheia deles. Muitas vezes eu mesmo me sinto um turista em Copacabana. Talvez por não ser daqui. É, taí uma boa razão para que eu me sinta assim.

A TV da casa de sucos está sempre ligada. Não importa muito o que está passando. Às vezes é um campeonato de poquer, às vezes é um jogo de futebol e às vezes é um cardápio em slide show dos sanduíches e refeições que eles oferecem.

O rádio do restaurante ao lado é quase um alto falante. O lugar está lotado e as pessoas precisam falar mais alto para que sejam entendidas. Isso tudo forma um emaranhado imcompreensível de vozes, misturadas com o barulho dos ônibus e dos carros.

Entramos na livraria. Certos discos e livros possuem um certo magnetismo. É impossível sair da frente de alguns até que você decida comprar.

Naquele momento, eu estava entre a biografia de Keith Richards e a do Chacal. Levei o segundo. Certos livros tem magnetismo.

Enquanto olhávamos a seção de CDs, meu amigo comentava sobre essa onda de reprocessar, reconstruir, desconstruir um clássico, a sensação é a de que ocorreu uma dobra no tempo e aquele disco você acha que poderia ter sido gravado ontem. Você vai ao passado e volta ao presente em cada nota. Respondi que sim e meu amigo saiu para fumar.

Continuei ali em pé. A livraria também tinha uma TV ligada. Parece que todo lugar deve ter uma TV ligada. Um velho assistia com atenção as notícias.

Comentei com o meu amigo sobre a regravação que o Beck fez do primeiro do Velvet, lembrei também do Dougal Reed e a reinvenção do Rumours do Fleetwood Mac e o que o Flaming Lips fez com o Dark Side of The Moon, que deve ser o disco mais reprocessado da história. O pessoal do Easy Star reprocessou em dub, fizeram a mesma coisa com o Ok Computer do Radiohead e o Sgt. Peppers dos Beatles. Parece aquela história do Borges em que um sujeito reescreve todo o Dom Quixote linha por linha e no final não é o mesmo disco, ou melhor, livro. Não tem uma história dessa?

Andar. Circular. Ler e reler, ver e rever, ouvir e reouvir a história do rock.
i love rock and roll.

Eu estava pensando em todas essas coisas. O meu amigo perguntou sobre um livro que eu tinha comentando com ele, mas esqueceu o nome. Também não consegui lembrar. Vejo um homem que examina disco por disco da loja.

Alguma coisa. Alguma coisa existe nessa onda. Alguma coisa existe nessa onda de vinil que nos deixa realmente presos ao passado. Eu mexia e remexia os discos e sempre dava de cara com alguma coisa interessante.

Antigamente (antigamente, haha.) a sensação de estar dentro da Modern Sound era a de estar em um parque temático. Tamanha era a alegria de poder olhar todos aqueles discos reunidos. A História da Música Universal ao alcance das mãos, e na maioria das vezes, fora do alcance do bolso.

Hoje, a sensação é a de estar em um museu. Toda a discografia do Jethro Tull, Eric Clapton, Free, Tangerine Dream, Frank Zappa, Miles Davis, Charles Mingus, Lee Scratch Perry...penso em qualquer artista, é bem capaz de se encontrar por lá em uma nova edição, ou em uma caixa luxuosa. Coisas que só a Modern Sound tem, ou tinha, agora que vai fechar. Nunca existiu uma loja como a Modern Sound.

Na Modern Sound permanecem aqueles mesmos códigos para os discos: "D1-Importado", "LX2-Nacional", "F-Lançamento Nacional"...coisas assim, não decorei exatamente os códigos, até porque para saber o valor é preciso consultar a tabela correspondente de cada letra e depois...enfim, um sistema arcaico, e aparentemente bem sucedido.

Pensei em levar algum CD como uma memória afetiva, e fiquei com o "Sweetheart of the Rodeo" dos Byrds em mãos. Estava uma "bagatela" de 65 reais, (era o LX2 ou algo que o valha). Em algum momento, lembrei do meu amigo que disse ter conseguido em outra loja por 20, ou 15 reais e acabei desistindo da aquisição, depois eu gravo, ou baixo de algum rapidshare da vida, sei lá.

Saímos da loja e a rua estava silenciosa. Chovia um pouco.